Notícias

Chave na mão, só com pagamento à vista

Neide Martingo Muito longe das oscilações das bolsas de valores, a confusão dos indicadores financeiros deixa atordoados também agentes da economia real. E o mercado automotivo, direta (com a queda das ações das montadoras) ou indiretamente (nos juros e vendas), já sente o impacto. Nessa hora, é natural o consumidor ficar em dúvida sobre até que ponto isso vai influenciar nos preços e se está na hora de comprar ou não um carro novo. Se esse é o seu caso, é bom prestar atenção ao conselho que é unanimidade entre os especialistas ouvidos pelo Diário do Comércio: o momento é de esperar. Para o consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) Luiz Jurandir Simões, o ideal é que os compradores façam uma "poupança" e comprem o carro quando surgir uma boa promoção. "Automóveis e imóveis não podem ser adquiridos com pressa. Se souber aguardar, o consumidor pode conseguir até 30% de desconto." Se não puder esperar, o ideal, segundo ele, é ter em mãos pelo menos 40% do valor do carro para fazer a compra. "Postergar a aquisição vale a pena. A tendência é de que os juros caiam. E as vendas esfriando provocam promoções das montadoras. Os pátios não vão chegar a ficar lotados, já que as fábricas estão oferecendo férias coletivas aos trabalhadores para evitar esse cenário. Mas o processo atual na economia dificulta o escoamento da produção. O jeito vai ser fazer promoções e baixar os preços", disse Simões. "Em fevereiro ou março de 2009, os juros devem estar menores." O professor sugere que os consumidores invistam o dinheiro que seria destinado à compra do automóvel em aplicações como um fundo DI, por exemplo. "Vale mais a pena, a taxa é atrativa", afirmou. Condições melhores "Se o consumidor esperar, vai encontrar melhores condições de compra depois", confirmou o vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira. "Este não é o momento de comprar. As pessoas sonham com o carro novo, mas devem priorizar as finanças e dar valor ao dinheiro que têm." Ele, porém, acredita que a situação vai melhorar para o consumidor ainda mais rapidamente. "As taxas encontradas no mercado hoje variam entre 1,30% e 1,80% ao mês. Até o final do ano, as pessoas já encontrarão condições melhores de crédito", afirmou. Além disso, de acordo com o vice-presidente da Anefac, os preços dos automóveis vão cair em razão da falta de compradores nas lojas. "As condições de crédito pioraram, o ânimo no mercado está diferente. Se o consumidor fechar um contrato hoje, terá essas condições até o final. Mesmo que a economia melhore, com taxas de juros mais baixas, ele ficará preso no contrato antigo", analisou. Lojas às moscas A contar pelo cenário atual, a previsão dos especialistas não deve demorar muito a se concretizar. A comprovação está em uma simples visita feita pela reportagem a uma loja de veículos na semana passada. Um consumidor aqui, outro ali. Vendedores sentados, conversando. Um deles arriscou um soninho rápido. Várias das 27 lojas que integram o Auto Shopping Imigrantes, na zona sul de São Paulo, registram queda em vendas e fluxo de pessoas. Segundo o consultor de negócios Geraldo Luiz dos Santos, da AHB Multimarcas, nos últimos 30 dias, o movimento caiu 70% sobre o período imediatamente anterior. "O salário dos funcionários terá redução no mesmo índice. O rendimento do Natal já preocupa. Tem banco que nem aceita mais proposta de cliente que quer financiar o veículo, nem dando 80% de entrada. Mas a mídia incentiva a crise. Sai publicado por aí que não é hora para comprar e as pessoas ficam com medo. A economia trava", reclamou. Os poucos clientes que circulavam pelos corredores do shopping comprovam o movimento morno. O paisagista João Paulo da Cruz e sua mulher, a manicure Lidiane Carneiro, pretendiam trocar o Fiat Uno ano 96 por um modelo mais novo. Fizeram planejamento antes da decisão: financiamento, nem pensar. O pagamento será à vista. Há tempos que o casal economiza 30% da renda mensal. "Já sofremos muito com financiamento. Prefiro ficar sem o veículo do que não dormir à noite, preocupado com a prestação", disse Cruz. "Já quase perdemos um carro para o banco. A crise econômica só reforçou os planos da família", afirmou Lidiane. Outro casal que foge do financiamento é formado pelo eletricista Ricardo Ferreira e a técnica de enfermagem Neuma Pereira Lima Silva. "Quem compra à vista tem poder de negociação, consegue desconto. No início de 2009 já tem muita conta para pagar, não é possível fazer mais uma com a aquisição do automóvel", disse Ferreira. "Não vamos sofrer para ter carro novo na garagem. A economia está em turbulência." O gerente de vendas da Rommer Multimarcas, Valmir Rodrigues, afirmou que os consumidores estão aguardando, pois querem sentir o otimismo no mercado novamente para colocar a mão no bolso. Segundo ele, as vendas, nos últimos 30 dias, caíram 40% em relação ao mês anterior. Mas Rodrigues acredita que a hora já seja de comprar porque os preços estão caindo. "Os carros usados eram vendidos com valores irreais. Havia muita procura e o preço subiu. E veículos zero quilômetro são oferecidos com 10% de desconto, nas compras à vista." Segundo ele, os juros mensais cobrados atualmente vão de 1,09% a 2,04%. Antes da crise econômica, eram de 0,99%. Uma loja de carros na zona norte de São Paulo também registra queda nas vendas, no prazo de financiamento e alta nas taxas cobradas pelos bancos. O vendedor, que não quis se identificar, disse que o total das parcelas já chegou a 72 meses. Hoje, o limite são 60 meses. Ele afirmou que, há uma semana, as taxas cobradas eram de 1,25% ao mês. Pularam para os atuais 1,79% mensais.
voltar

Links Úteis

Indicadores diários

Compra Venda
Dólar Americano/Real Brasileiro 5.8177 5.8187
Euro/Real Brasileiro 6.0963 6.1043
Atualizado em: 21/11/2024 16:05

Indicadores de inflação

08/2024 09/2024 10/2024
IGP-DI 0,12% 1,03% 1,54%
IGP-M 0,29% 0,62% 1,52%
INCC-DI 0,70% 0,58% 0,68%
INPC (IBGE) -0,14% 0,48% 0,61%
IPC (FIPE) 0,18% 0,18% 0,80%
IPC (FGV) -0,16% 0,63% 0,30%
IPCA (IBGE) -0,02% 0,44% 0,56%
IPCA-E (IBGE) 0,19% 0,13% 0,54%
IVAR (FGV) 1,93% 0,33% -0,89%