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Dividendos valorizados

Estudo mostra os papéis que deram mais retorno aos acionistas com a distribuição de lucros nos últimos três anos e que são opção mais conservadora.

Diante de um ambiente de juro mais baixo, as ações que pagam bons dividendos se mostram ainda mais vantajosas. É possível, por exemplo, encontrar empresas que projetam distribuir lucros equivalentes a mais de 10% do preço de suas ações, ou seja, um retorno acima dos 8,75%, da atual taxa básica de juros. Estudo feito pela consultoria Economática para o Valor mostra quais foram as melhores ações em termos de retorno com dividendos dos últimos três anos. O levantamento considerou não apenas o ganho com a distribuição do lucro, mas a liquidez dos papéis na bolsa, já que isso é um fator importante na hora de escolher uma ação para investir.

 

Foram selecionadas empresas que pagaram de 2007 a 2009 pelo menos o equivalente a 6% do valor da ação por ano, considerando o preço do papel no início do período. Esse retorno, chamado de "dividend yield", permitiu selecionar 29 papéis, dos quais o Valor escolheu os 13 mais líquidos, com mais de R$ 1 milhão negociados por dia. Entre eles, o melhor retorno médio nos três anos foi do papel preferencial (PN, sem voto) série B da Eletropaulo, com "dividend yield" de 16,71% ao ano.

O que chama a atenção é a quantidade de papéis do setor de energia, afirma Einar Rivero, da Economática. Da lista de 29 boas pagadoras, 19 são elétricas e, entre as 13 mais líquidas, 8. Einar ampliou o estudo e inclui no retorno a variação do preço da ação - como se o investidor tivesse vendido o papel após três anos. Nesse caso, o ganho final muda bastante.

Se o investidor tivesse reaplicado os dividendos em ações da mesma empresa, teria retornos de até 142,23% em três anos, caso da ação PN da Transmissão Paulista. Já a ação ordinária (ON, com voto) da Telesp acumularia 8,25%, apesar do "dividend yield" médio de 9,40% ao ano. "A Telesp foi o patinho feio das boas pagadoras de dividendos porque o papel não foi bem", observa Einar. A explicação foi que a empresa sofreu, especialmente no ano passado, com os problemas técnicos com o sistema de banda larga Speedy.

Sem reaplicar o dividendo, o retorno seria menor ainda, como mostra a coluna Retorno 2 da tabela. No caso de Transmissão Paulista, o ganho cai para 71,96% e, na Telesp, vira uma perda de 19,78% - nesse caso, pode-se notar a falta dos dividendos amortecendo a queda do papel.

Depois de uma alta de 82,66% no Índice Bovespa no ano passado, parece razoável o investidor que quer aplicar em ações procurar alternativas mais seguras, com menos emoção como as boas pagadoras de dividendos. Em geral, são companhias já estabilizadas, que não precisam fazer grandes investimentos para crescer e possuem um fluxo de caixa constante.

A vantagem cresce em um ambiente de juro mais baixo. Mesmo que os juros subam para 10% neste ano, como projeta o mercado, o retorno em dividendos de vários papéis, de acordo com as análises feitas pelas corretoras para este ano, ainda será atrativo. Principalmente porque os dividendos não pagam imposto de renda, diferentemente da renda fixa.

O ano começou com a bolsa ainda forte graças à recuperação das empresas de commodities e isso pode afastar um pouco o investidor das ações mais defensivas como as de dividendos, diz Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora. "O pessoal quer adrenalina." Mas, para os investidores de coração fraco, o dividendo é uma opção de diversificação. "Não é um ganho garantido, mas é uma expectativa bastante razoável dependendo do histórico da empresa", lembra. E o cenário, muito positivo para as ações de crescimento, também pode mudar, alerta Lika, caso os riscos mais graves, como uma retração econômica nos EUA, se confirmem.

A alta dos preços das ações acaba reduzindo um pouco o retorno em dividendos dos papéis. Mesmo assim, há estimativas bem interessantes, afirma Lika. É o caso de Telesp, cujo preço ficou para trás no ano passado, e que nas contas da Fator projeta um retorno de 10% em dividendos e mais 60% no preço da ação. A Eletropaulo também tem um retorno elevado, de 10%, mas há o risco de a empresa reconhecer uma dívida antiga que está sendo disputada com a Eletrobrás.

Entre as sugestões da Fator estão, além de Telesp PN, Geração Tietê PN, com "dividend yield" estimado em 11% e potencial de valorização de 30%, Coelce PNB, com dividendo de 10,9% e potencial de alta de 18,5%, e Transmissão Paulista PN, com "dividend yield" de 10,5% e potencial de valorização do papel de 21,8%. Eternit tem um dividendo estimado em 7% e Visanet e Redecard, de 6%.

As ações de dividendos tendem a apresentar resultado mais conservador, diz Alexandre Silvério, superintendente de fundos multimercados e de renda variável do Banco Santander. Isso ficou claro nos dois últimos anos. Em 2009, os fundos de dividendos tiveram, em média, retorno de 59,39%, para um Ibovespa de 82,66%. Mas, no ano anterior, eles perderam menos, 31,22%, para -41,22% do índice. "É uma classe de ativos bastante interessante, olhando no longo prazo, pois é mais defensiva", diz.

Ele lembra que a queda dos lucros das empresas em 2009 deve ter impacto nos dividendos a serrem distribuídos neste ano. "Na média, a Bovespa como um todo vinha com um 'dividend yield' de 4,5%, mas em 2009 ele caiu para 3%", afirma Silvério. "Mas quando se olha para algumas empresas, vemos para este ano potencial de distribuição de lucros maior, de até 14%", diz.

"As oportunidades em termos de retorno em dividendos são menores este ano, mas ainda há casos interessantes", diz Carlos Firetti, da Bradesco Corretora, citando o setor elétrico, tradicional bom pagador de dividendos, e Redecard e Cielo, cujas ações sofreram no ano passado com as incertezas e a concorrência, e que projetam retorno de 7% a 8%. No setor elétrico, Firetti tem estimativas de retorno em dividendos de 14% para a Eletropaulo, 11% para AES Tietê e 8,8% para CPFL.

O setor de "utilities" (energia e saneamento) brasileiro projeta os maiores retornos do mundo em dividendos, na faixa de 8,8% em média, afirma Cida Souza, estrategista da Itaú Corretora. "Tem alguma coisa em telefonia, mas no caso de Telesp, por exemplo, a empresa vai ter de aumentar os investimentos por causa dos problemas técnicos do ano passado, e a Telemar está no meio de uma reestruturação", observa. Mas, mesmo com a queda, Telesp ainda deve pagar algo perto de 9%, estima Cida. Já em energia, a corretora trabalha com 16,2% de "dividend yield" para Eletropaulo e 11,5% para AES Tietê. "E há também as que combinam o dividendo com o potencial de alta do papel", afirma Cida, citando o caso de AES, cujo preço poderia subir 20%, e Light, com dividendo de 6,7% e potencial de alta de 40%.

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